domingo, 29 de maio de 2011

Felicidade



Eu não tenho um I-Pad. Não fiquei na expectativa da chegada do I-Pad2, mas não tiro a razão de quem acha que precisa de um. O aparelho é bonito, é lindo. Design fantástico, e qualquer foto ou vídeo fica sim mais bonito num I-Pad. Mas eu, definitivamente, não preciso de um.


Esse teatro chamado vida, onde até hoje não se sabe ao certo quem é o diretor, e que impõe aos seus personagens uma atuação mais voltada para os outros do que para si mesmo, tem nos levado à falsa crença de que ter é mais importante do que ser


O que você é pouco importa diante do que você tem. E a ironia disso tudo é que quanto mais você tem, mais você deixa de ser você mesmo, pois você, em algum momento da vida, acabou se rendendo a essa falsa e chata idéia de que precisa seguir as tendências, sob pena de ficar pra trás. 


Se hoje vivemos um surto de pessoas depressivas, ansiosas e inseguras, é porque o medo de ficar para trás é maior do que a vontade de seguir o coração e ser feliz fazendo o que realmente gosta, do jeito que gosta, ao lado de quem gosta, sem se importar se isso é ridículo ou não recomendável aos olhos da sociedade ou do  vizinho ao lado, que sempre vai ter a grama mais verde do que a nossa. Mas não se iluda! O vizinho também sofre do mesmo mal moderno que você. Por mais que ele negue ou não deixe transparecer, ele também está se questionando se precisa ou não de um I-Pad, o 2, é claro.


Não importa o que você faça, seu corpo nunca será perfeito como deveria. Que se dane se sua esposa gosta, ou se sua filha adora brincar em cima da sua barriguinha de chopp...você só será feliz mesmo se tiver um tipo parecido com aquele do ator do momento, como é nome dele mesmo...? Não sei, aquele...aquele que foi capa da Caras numa semana e que na outra saiu no jornal por ter batido na mulher e que está envolvido com drogas...


Hoje, o conceito de família que existia e dava certo lá atrás, não encontra mais espaço num mundo em que se discute mais o combate à homofobia do que a preservação dos princípios ligados à família. Nossas crianças crescem aprendendo a adaptarem seus extintos a um mundo torto que nós mesmos preparamos pra elas.


Antigamente uma família comum de 5, 10 filhos vivia com menos de 10% dos problemas do que uma atual que possui apenas 1 têm. Minha mãe, ao lado de suas 5 irmãs, brincava de boneca de pano e sabugo de milho. Eu, ainda sinto o cheiro do cartucho do Atari quando ia brincar na casa do Gordinho (que nem imaginava o que era bullyng) escondido da minha mãe que, se quisesse me encontrar, teria que sair na rua me caçando, e não me mandar um SMS...


Ainda dá pra sentir saudades de tudo isso, de quando éramos felizes com pouco. Nossas crianças, porém, terão vergonha de sentir saudade, pois esse sentimento de gente fraca está ligado ao conceito de velho, o que não é permitido nos dias atuais em que a felicidade está na angústia em esperar por um I-Pad 2, pois o 1 já não serve mais (aliás, o que o 2 tem de diferente do 1?). A velocidade com que a modernidade se impõe como pressuposto de felicidade é tão grande que atropelará todo e qualquer saudosismo que se queira ao menos pensar em sentir.


Eu era mais feliz, bem mais feliz, quando acreditava no Papai Noel, aquele velhinho bondoso que me traria o novo disco do Balão Mágico que o Gordinho não tinha, com músicas alegres e puras. Hoje o Papai Noel é motivo de piada, a Simony foi parar na Playboy assim que ficou maior de idade, e a Xuxa, que mais tarde graças ao YouTube eu descobri que até filme pornô fez, deu lugar à Lady Gaga.